Alimentação e mudanças climáticas

Como os hábitos alimentares podem impactar no combate à crise ambiental

Autor
Observatório Sistema Fiep - 29/11/2022

A influência das mudanças climáticas na produção de alimentos já é um tema recorrente em estudos e relatórios, como os elaborados pelos cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU). Com o aumento da temperatura, as secas serão cada vez mais frequentes e intensas e grandes tempestades levarão à quebra de safras, à diminuição de produção e, consequentemente, ao aumento dos preços dos alimentos. Além disso, estudos indicam que o ar mais quente resulta na produção de cereais menos nutritivos.

As populações mais pobres e vulneráveis são mais suscetíveis aos riscos inerentes ao aumento de temperatura e às transformações que a Terra vem sofrendo em decorrência da crise climática. Existem estudos sobre os efeitos negativos das mudanças climáticas na Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) nos países em desenvolvimento, revelando a contribuição da crise climática para o agravamento de formas diferentes de má nutrição, como desnutrição, deficiências nutricionais e sobrepeso ou obesidade. A redução da disponibilidade de alimentos, associada ao aumento dos preços dos alimentos in natura, eleva a procura por comida ultraprocessada e processada, responsável por uma das vertentes da insegurança alimentar, que é o sobrepeso/obesidade.

Em combinação com a adoção de uma agricultura sustentável, mudanças na dieta podem ajudar a compatibilizar a produção de alimentos saudáveis com o combate às mudanças climáticas. A redução do consumo de carne vermelha associada ao aumento no consumo de proteínas vegetais é uma das práticas alimentares apontada como positiva, pois permite que mais alimentos sejam produzidos em áreas menores que a produção animal. Além disso, os ruminantes emitem gás metano, que tem um potencial de aquecimento 28 vezes maior do que o CO². A redução da proteína animal na dieta* (não somente carne vermelha, mas leite e ovos também) resulta, portanto, na diminuição do uso da terra e das emissões de gases de efeito estufa, além de melhorar a saúde humana.

Os desperdícios alimentares também são apontados como responsáveis por 8% a 10% das emissões. Embora parte desse percentual seja atribuído às perdas no processo de produção e distribuição do alimento, o desperdício de comida doméstica também é relevante. A falta de planejamento no momento da compra leva a uma grande quantidade de comida que acaba sendo jogada fora, e esse alimento desperdiçado irá gerar gases. O chamado “desperdício do consumo excessivo” na Austrália, por exemplo, é responsável por 30% das emissões da indústria de alimentos.

Além do excesso de comida que vai para o lixo, existe o desperdício na forma como nos alimentamos. A prática de descascar frutas e vegetais, por exemplo, é muitas vezes desnecessária. E, novamente, as cascas descartadas refletem nas mudanças climáticas, pois a comida não consumida irá apodrecer em aterros sanitários e liberar metano. Nutricionalmente, muitas das cascas que temos o hábito de retirar de frutas e verduras têm uma quantidade importante de vitaminas e minerais, a exemplo da beterraba, nabo, batata doce, cenoura e rabanete. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a maçã com casca apresenta 15% mais vitamina C, 267% mais vitamina K, 20% mais cálcio, 19% mais potássio e 85% mais fibra do que a descascada.

As mudanças nos hábitos alimentares são consideradas as mais acessíveis em termos de iniciativas que os cidadãos podem adotar para ajudar na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Mudar a dieta, práticas nas compras ou modos de preparar alimentos são ações que podem ser implementadas de forma imediata pela população.

 

*Em alguns lugares do planeta, no entanto, as pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar e nutricional precisam aumentar o consumo de carne, pois têm dieta baixa em proteína.

 

Acesse o Painel de Indicadores de Mudanças Climáticas de Curitiba: https://paineldemudancasclimaticas.org.br/

 

Fontes

 

Os impactos das mudanças climáticas na Segurança Alimentar e Nutricional: uma revisão da literatura

Disponível em:

https://www.scielo.br/j/csc/a/Rdr4LGpjWwGfmkgxMs6pLSL/?format=pdf&lang=pt

 

A produção de alimentos, as mudanças climáticas e a saúde pública

Disponível em:

https://pp.nexojornal.com.br/ponto-de-vista/2022/A-produ%C3%A7%C3%A3o-de-alimentos-as-mudan%C3%A7as-clim%C3%A1ticas-e-a-sa%C3%BAde-p%C3%BAblica

 

“A culpa pela mudança climática não é das vacas, é das pessoas”.

Disponível em:

https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/08/ciencia/1565285624_326508.html

 

É melhor comer frutas e legumes com ou sem casca?

Disponível em:

https://www.bbc.com/portuguese/geral-63635747

 

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