Desinformação Climática

Conteúdo enganoso distorce dados científicos e minam a confiança na ciência climática

Observatório Sistema Fiep - 12/01/2024

As discussões acerca das mudanças climáticas permeiam os grandes veículos de comunicação e as plataformas de mídia social, entretanto, as informações incorretas e a desinformação sobre as mudanças climáticas são as principais ameaças à ação climática.

Alguns estudiosos adotam a ideia de que há uma desordem da informação composta por dados equivocados, informações erradas ou mal-informação (misinformation) e desinformação (disinformation). Nesse contexto, a mal-informação é caracterizada pela divulgação de dados imprecisos, falsos ou ambíguos, suscetíveis a interpretações variadas, indicando um erro ou algo inadequado. Por outro lado, a desinformação abrange exatamente a noção de informações falsas ou imprecisas compartilhadas conscientemente, com a intenção de enganar ou confundir. Em outras palavras, a diferença reside na presença ou ausência de uma intenção consciente por parte de quem compartilha tal informação. Embora ambas as palavras se refiram a tipos de informações incorretas ou falsas, apenas a desinformação é deliberadamente enganosa. Entretanto, essa definição também não é consensual, e há outra interpretação de que desinformação significa 'sem informação', ou seja, desinformado é aquele que carece de informações. Dessa forma, há certa confusão na associação do termo 'desinformação' como um fenômeno de disseminação de informações falsas ou da completa ausência de informação.

Para descrever o fenômeno da produção, difusão e consumo das informações, o gráfico abaixo explicita o ecossistema da desinformação e suas aplicações.

A má-informação e a desinformação climática referem-se a conteúdo enganoso ou ilusório que prejudica a compreensão ou os impactos das mudanças climáticas; distorce dados científicos, seja por omissão ou escolha seletiva, com o objetivo de minar a confiança na ciência climática, nas instituições , nos especialistas e nas soluções; nega a evidente influência humana na mudança climática, contrariando o consenso científico sobre mitigação ou adaptação, ou ainda, nega a existência ou os impactos das alterações climáticas. Os efeitos da desinformação climática, afetam a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas, especialmente dos mais vulneráveis, e retardam a busca por soluções aos desafios impostos pela emergência climática. A persistência da desinformação e a crença em conteúdos fraudulentos são alguns dos fatores que dificultam a implementação de ações mais eficazes em prol da mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

A desinformação prospera em momentos de crise e, ao invés de negar a existência das mudanças climáticas induzidas pelo homem, a desinformação cria ceticismo sobre a necessidade de ações e instila receios sobre suas consequências, além de retardar e atrapalhar na luta contra a crise climática e provoca o risco da inação, ou seja, a não priorização do problema climático na agenda social e política.

Contra a desinformação climática, é imperativa uma abordagem comunicacional multifacetada, na qual:

1. A tecnologia pode ser uma grande aliada, dependendo de como é utilizada, para combater a desinformação. Embora a tecnologia tenha facilitado a rápida disseminação de desinformação climática, também pode ser parte da solução, com algoritmos orientados por IA podem identificar padrões exclusivos de conteúdo gerado por IA permitindo detecção e intervenção precoces;

2. A educação científica deve construir o conhecimento, fornecendo informações, saberes e experiências para compreendermos a ciência, e, aplicarmos os princípios científicos na vida cotidiana, contribuindo para controlar e prever as transformações que ocorrem na natureza;

3. A informação jornalística deve utilizar fontes confiáveis, basear-se em fatos e na ciência para manter a credibilidade, e para uma compreensão mais abrangente das implicações das mudanças climáticas é essencial apresentar uma variedade de perspectivas, incluindo as científicas, políticas, econômicas e a visão de comunidades afetadas. Também é importante destacar soluções e ações concretas e as conexões entre diversas áreas para contribuir para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

4. A educação midiática pode auxiliar na identificação de fontes confiáveis; compreensão da manipulação da informação; promoção do pensamento crítico; engajamento cívico; e mitigação da polarização.

5. Realizar comunicações com mensagens preventivas de inoculação, utilizando a técnica de argumentação para neutralizar os efeitos da desinformação climática.

Acesse o Painel de Indicadores de Mudanças Climáticas de Curitiba: https://paineldemudancasclimaticas.org.br/

REFERÊNCIAS:

A ameaça da desinformação climática propagada pela tecnologia de IA generativa

Disponível em: https://www.unite.ai/pt/the-threat-of-climate-misinformation-propagated-by-generative-ai-technology/

A desinformação climática impede ações e alimenta divisões

Disponível em: https://climainfo.org.br/2022/11/04/a-desinformacao-climatica-impede-acoes-e-alimenta-divisoes/

Claire Wardle: combater a desinformação é como varrer as ruas

Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5104957/mod_resource/content/0/Tipos%20de%20Desinforma%C3%A7%C3%A3o%20para%20Claire%20Wardle%20-%2014_11_17%20-%20Observat%C3%B3rio%20da%20Imprensa.pdf

Computer-assisted detection and classification of 2 misinformation about climate change - https://static.poder360.com.br/2023/10/misinformation-mudancasclimaticas-travis-constantine-cook-nanko.pdf

Desinformação climática: saiba o que é e quais as consequências do problema Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2022/05/28/desinformacao-climatica-saiba-o-que-e-e-quais-as-suas-consequencias.htm?cmpid=copiaecola

Desinformação ou fake news: qual a diferença?

Disponível em: https://desinformante.com.br/desinformacao-ou-fake-news/