O valor dos alimentos

Como as mudanças climáticas podem afetar na produção de chocolate e azeite de oliva

Observatório Sistema Fiep - 16/02/2024

As mudanças climáticas estão impactando severamente áreas dedicadas à produção de alimentos, e a escassez resultante pode restringir o acesso a itens alimentares básicos. Precipitações extremas, fora de época interferem no desenvolvimento e na secagem dos grãos, levando à degradação da qualidade e à consequente diminuição na produção. As enchentes também podem dificultar o acesso às principais vias em regiões agrícolas.

Não é de hoje que os amantes de chocolate estão pagando cada vez mais caro para satisfazer sua preferência. Há um aumento contínuo no preço do chocolate devido às adversidades enfrentadas na produção de cacau, especialmente no principal polo produtor mundial, localizado no oeste da África. O envelhecimento das plantações, combinado com os desafios impostos pelas mudanças climáticas, tem prejudicado significativamente o cultivo, e como resultado a produção mundial está abaixo do consumo. O cultivo de cacau é complexo e altamente sensível a fatores ambientais, como temperatura, erosão, contaminação do solo e pragas. O cacaueiro é uma árvore nativa de ecossistemas tropicais e só cresce em climas onde as chuvas são frequentes, por esse motivo, é encontrado principalmente a dez graus acima ou abaixo da linha do Equador. Embora o Brasil seja um importante produtor de cacau, ocupando o sétimo lugar no ranking global, sua produção ainda não atende plenamente à demanda nacional, resultando na necessidade de importação. A redução da produção de cacau tem impacto no preço do produto no mercado internacional, e com preço alto, o que possivelmente, deve levar as indústrias a optar por diminuir a quantidade de produto na embalagem, enquanto mantém ou eleva o preço (reduflação) o que pode impactar o poder de compra dos consumidores em todo o mundo.

No caso das oliveiras, que naturalmente são resistentes a variações de temperatura, estão sendo desafiadas a se adaptar a condições climáticas extremas. As mudanças climáticas têm contribuído para chuvas excessivas e períodos prolongados de calor intenso em países europeus produtores de azeitonas, como Espanha, Itália e França, que respondem por 60% da produção mundial. Essas condições adversas reduzem a floração e resultam na ausência de frutos e, podem diminuir a umidade do solo e prejudicar o desenvolvimento das oliveiras em sua fase crucial de crescimento. As altas temperaturas são particularmente prejudiciais, pois interferem na produção de frutos. Embora as oliveiras exijam calor e clima seco para crescer, necessitam de temperaturas mais baixas para frutificar. A produção de azeite requer uma grande quantidade de azeitonas, variando de acordo com a variedade, podendo ser necessários de 5 kg até 25 kg de azeitonas para produzir um litro do produto. Além disso, a oliveira só começa a dar frutos a partir dos cinco anos de existência, alcançando a melhor produção a partir dos 35 anos. O impacto das altas temperaturas na safra de azeitonas dos produtores de azeites europeus afeta não só o preço do item no Brasil, mas em todo mundo, considerando que o Brasil é um dos maiores importadores de azeite do mundo, junto com Japão, Estados Unidos e Canadá. De acordo com o Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), a produção nacional de azeites extra virgens ainda é pequena, representando cerca de 1% do mercado nacional de azeite. Em função da pouca quantidade, a curto prazo, a produção interna não é capaz de abastecer o país, pois nem todos os lugares é possível produzir o azeite por conta da necessidade de um clima específico para isso.

Para lidar com os desafios enfrentados na produção de cacau, podem ser consideradas soluções como investimento em reflorestamento ou a aplicação de biotecnologia, incluindo o estudo dos genes responsáveis pela resistência a pragas no próprio fruto do cacau ou a introdução de genes de outras espécies, como os da mandioca, que ajudam a inibir a produção de toxinas em altas temperaturas, minimizando os impactos negativos. Na Europa, estão sendo implementadas, soluções incomuns, pela Circular Carbon, como o Biochar (junção de duas palavras em inglês: biomass, “biomassa”, e charcoal, “carvão”), um carvão vegetal produzido a partir da pirólise de biomassa das cascas de cacau usadas. O resultado é um pó preto, que é vendido aos agricultores locais, substituindo fertilizantes artificiais. Do processo de produção do carvão vegetal também é produzido biogás, que é revendido. Já, no caso das oliveiras, os produtores italianos de azeite de oliva, reivindicam um plano estratégico nacional, para conservação e reciclagem de água, além de medidas como a recuperação de águas pluviais e a criação de tanques de retenção, entre outras medidas.

Acesse o Painel de Indicadores de Mudanças Climáticas de Curitiba: https://paineldemudancasclimaticas.org.br/

Fontes:

Como mudanças climáticas podem transformar café e chocolate em itens de luxo

Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-59834139

Clima severo pode prejudicar colheita de cacau na Costa do Marfim

Disponível em: https://planetacampo.com.br/clima-pode-prejudicar-cacau-costa-do-marfim/

Cocoa Market Report for October 2023

Disponível em: https://www.icco.org/cocoa-market-report-for-october-2023/

Os 10 países que mais produzem cacau

Disponível em: https://socientifica.com.br/paises-que-mais-produzem-cacau/

Azeite de oliva extravirgem fica até 80% mais caro no Brasil em 2023

Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/azeite-de-oliva-extra-virgem-fica-ate-80-mais-caro-no-brasil-em-2023/