Infância

Como as crianças são afetadas pelas mudanças climáticas

Observatório Sistema Fiep - 19/04/2024

A crise climática, uma expressão que se refere às significativas alterações no clima global, é majoritariamente associada às atividades humanas. Alguns territórios têm experimentado elevados índices pluviométricos, enquanto outros enfrentam períodos de seca e variações de temperatura fora do comum. Essas mudanças climáticas têm consequências devastadoras nas condições de vida em várias partes do mundo, impactando ecossistemas, ameaçando a biodiversidade, comprometendo o bem-estar e o progresso humano, além de acarretar implicações socioeconômicas significativas. As mudanças climáticas, exercem impactos diretos e indiretos na vida de crianças e adolescentes, que podem ser afetados pela destruição de habitações, pela insegurança alimentar e pela perda dos meios de sustento familiar. Além disso, esses efeitos sobre as crianças podem ser exacerbados pela desigualdade socioeconômica, conflitos armados e crises de saúde. Também há um aumento considerável nos problemas de saúde mental e de aprendizado, como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, ansiedade, distúrbios do sono, déficits cognitivos e dificuldades de aprendizagem. Igualmente, podem ocorrer casos de angústia, tristeza e raiva, perda de identidade, sentimentos de desamparo e desesperança, assim como um aumento da agressividade e da violência.

A pesquisa realizada pela UNICEF sobre a situação no Brasil ressalta como a crise climática representa uma ameaça aos direitos fundamentais da infância, incluindo o acesso à educação, saúde e até mesmo à sobrevivência básica. Essa vulnerabilidade é exacerbada pela dependência das crianças em relação aos adultos para garantir sua sobrevivência e bem-estar.

As mudanças climáticas e o desenvolvimento infantil estão intrinsecamente conectados. Devido aos seus corpos e sistemas imunológicos ainda em desenvolvimento, as crianças são mais suscetíveis a condições como poluição do ar e da água, ondas de calor e doenças transmitidas por vários vetores. Durante inundações, muitas crianças não possuem a força necessária para permanecer em pé em meio às correntezas; mesmo em águas rasas, as correntes fortes e os detritos na água, representam um alto risco de ferimentos e afogamentos. Em períodos de seca, a escassez de alimentos e água pode levar a deficiências nutricionais, resultando em subnutrição e impactando o desenvolvimento físico e cognitivo, o que tem implicações para o resto da vida da criança - incluindo a sua escolaridade, saúde e meios de subsistência. A exposição a altas temperaturas por períodos prolongados, juntamente com uma ingestão inadequada de líquidos, pode resultar em problemas respiratórios, desidratação e diarreia. As variações de temperatura, precipitação e umidade afetam diretamente a reprodução e sobrevivência de mosquitos transmissores de doenças como malária, dengue e febre amarela, influenciando também a propagação de outras doenças. Fenômenos climáticos extremos podem destruir residências, escolas e centros de cuidados infantis, dificultando o acesso e a permanência escolar, pois danificam infraestrutura, mobiliário, equipamentos, documentos e materiais educacionais, resultando em obstáculos para o retorno às atividades escolares e aumentando a evasão escolar.

Também, de acordo com a pesquisa da Unicef, as comunidades que residem em áreas de risco são as primeiras a sentir os efeitos das mudanças climáticas e geralmente têm menos recursos para se adaptarem a essas mudanças. Ou seja, diante das ondas de calor, quem mais sofre são as pessoas sem acesso a ventilação adequada; durante enchentes, as residências em palafitas ou próximas a rios são as primeiras a serem inundadas, sujeitas à contaminação por esgoto; e em períodos de seca, as famílias de baixa renda são as primeiras a perder seus meios de subsistência e acesso à alimentação adequada. Outro fator resultante das mudanças climáticas e da degradação ambiental, é o deslocamento de famílias e crianças em busca de melhores condições, exacerbando a vulnerabilidade social e aumentando as incertezas, o que pode aumentar o risco de violência física, moral e sexual para as crianças. Além dos impactos diretos das alterações climáticas, as crianças também são afetadas quando as alterações climáticas atingem os seus pais e outros cuidadores, como a perda de meios de subsistência. Além disso, quando as alterações climáticas desencadeiam conflitos devido a escassez de recursos, as crianças, que são os menos responsáveis por essas alterações, sofrem o maior impacto.

A compreensão da crise climática é crucial para o desenvolvimento de estratégias de mitigação e adaptação. As mudanças climáticas exigem uma resposta urgente, o problema já existe e pode se agravar ainda mais. É imperativo lidar com ele agora e reduzir os impactos futuros, promovendo a adaptação às mudanças que já são inevitáveis.

Acesse o Painel de Indicadores de Mudanças Climáticas de Curitiba: https://paineldemudancasclimaticas.org.br/

Fontes

Crianças e adolescentes são os que mais sofrem com as mudanças climáticas e precisam ser prioridade, alerta UNICEF

Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-de-imprensa/criancas-e-adolescentes-sao-os-que-mais-sofrem-com-mudancas-climaticas-e-precisam-ser-prioridade

Crianças, adolescentes e mudanças climáticas no Brasil - 2022

Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/media/21346/file/criancas-adolescentes-e-mudancas-climaticas-brasil-2022.pdf

Crise climática impacta mais crianças e adolescentes, mostra estudo do Unicef

Disponível em: https://porvir.org/crise-climatica-impacta-mais-criancas-e-adolescentes-mostra-estudo-do-unicef/

Crise climática: por que as crianças são as mais afetadas pela mudança extrema no clima

Disponível em: https://habitatbrasil.org.br/crise-climatica/

Como as mudanças climáticas afetam as crianças brasileiras

Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/11/09/como-as-mudancas-climaticas-afetam-as-criancas-brasileiras