O relatório Clima e Desenvolvimento para o País (CCDR), do Banco Mundial, explora políticas e opções para que o Brasil cumpra seus objetivos climáticos e de desenvolvimento conjuntamente.

O documento destaca que as mudanças climáticas já estão alterando os padrões de temperatura e o regime pluviométrico no Brasil através da menor disponibilidade de água e de secas prolongadas, o que deve ser aprofundado nos próximos anos. Os efeitos negativos terão reflexos no setor energético, na agricultura, no abastecimento de água nas cidades, além de ameaçar os ecossistemas brasileiros. Eventos extremos, como secas, enchentes e inundações fluviais, causam perdas de R$ 13 bilhões (US$ 2,6 bilhões) ao ano. Ademais, os desastres têm impacto direto na infraestrutura de transporte e energia.

Outro destaque é a possibilidade de o Brasil atingir um ponto de inflexão em que grandes áreas da Bacia Amazônica não teriam mais chuvas suficientes para sustentar os ecossistemas nativos ou fornecer serviços ecossistêmicos essenciais, como mitigação da erosão, abastecimento e purificação da água, biodiversidade e armazenamento de carbono. Isso traria graves consequências para a agricultura, o abastecimento de água nas cidades, a mitigação de inundações e a geração de energia hidrelétrica. O prejuízo projetado de um possível ponto de inflexão na Amazônia sobre o PIB acumulado do Brasil até 2050 seria de aproximadamente R$ 920 bilhões (US$ 184,1 bilhões, ou 9,7% do PIB de 2022).

Contudo, apesar dos possíveis impactos negativos, o Brasil apresenta oportunidades singulares para o enfrentamento das mudanças climáticas.

O perfil de emissões do país e seus recursos naturais abundantes representam uma oportunidade excepcional para se beneficiar das ações climáticas. Apesar do Brasil ser um dos dez maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) do mundo, seu perfil de emissões não segue o padrão mundial. Entre 2000 e 2020, a origem de 76% das emissões do país era a mudança no uso do solo, incluindo desmatamento e agricultura, em comparação com 18% das emissões globais de mesma fonte. Segundo o relatório, quase a metade do suprimento de energia do Brasil, incluindo mais de 80% de sua eletricidade, é derivado de fontes renováveis, em comparação com as médias mundiais de cerca de 15% e 27%, nos anos 2000 e 2020, respectivamente.

Existem oportunidades econômicas viáveis no Brasil para diminuir as emissões totais do país, ao mesmo tempo que fortalece sua capacidade de lidar com os impactos das mudanças climáticas e reduz o risco de atingir o ponto de inflexão. Entre elas estariam cumprir o compromisso do governo de acabar com o desmatamento ilegal até 2028 (de acordo com o Código Florestal) e zerar as emissões liquidas até 2050. Essas ações poderiam resultar em remoções significativas de dióxido de carbono (CO2), preservando também serviços ecossistêmicos vitais para os setores agrícola, energético e urbano. Ao direcionar recursos para combater o desmatamento, o Brasil também teria a oportunidade de promover a descarbonização progressiva de outros setores, ao mesmo tempo que evita atingir o ponto de não retorno na Amazônia.

O relatório argumenta que o setor energético altamente limpo e o potencial de produção de bens e serviços ecológicos colocam o país em vantagem competitiva para o fornecimento de produtos necessários para a descarbonização, incluindo minerais verdes, hidrogênio verde e produtos ecológicos.

Para acessar o relatório na integra, acesse:

https://openknowledge.worldbank.org/entities/publication/a713713d-0b47-4eb3-a162-be9a383c341b

Referências:

WORLD BANK GROUP. Brazil country climate and development report. CCDR Series. Washington (DC): World Bank Group, 2023. Disponível em: https://openknowledge.worldbank.org/entities/publication/a713713d-0b47-4eb3-a162-be9a383c341b. Acesso em: 11 jul. 2023.