Lixo eletrônico

O descarte e a mineração urbana

Autor
Observatório Sistema Fiep - 12/04/2024

Atualmente, o mundo está passando por um processo de eletronização e transformação digital, onde a eletrônica e as tecnologias digitais estão causando mudanças significativas na forma como vivemos, trabalhamos, aprendemos, socializamos e fazemos negócios. Segundo o relatório The Global E-Waste Monitor 2024, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), observa-se um aumento alarmante na geração de resíduos eletrônicos em todo o mundo, que cresce cinco vezes mais rápido do que os esforços de reciclagem. O termo "lixo eletrônico", é também conhecido como REEE (Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos), e-lixo ou sucata eletrônica, dependendo do contexto. O lixo eletrônico consiste em produtos domésticos ou comerciais, que perderam seu valor devido à falta de uso, substituição ou avaria, e possuem circuitos ou componentes alimentados por eletricidade ou bateria.  A categoria abrange desde eletrodomésticos, como geladeiras, fogões, máquinas de lavar, secadores de cabelo e micro-ondas, até dispositivos eletrônicos, como televisores, computadores, telefones celulares, fones de ouvido sem fio, tablets e drones, além de incluir pilhas, baterias, cartuchos e toners. Cada um desses produtos tem sua própria composição material única, métodos de descarte e reciclagem, e pode causar impactos desiguais ao meio ambiente e à saúde humana se não forem adequadamente gerenciados de forma ambientalmente correta. O Brasil figura entre os maiores produtores de lixo eletrônico das Américas, com uma produção anual de 2,4 milhões toneladas de e-lixo, o que coloca o país na segunda posição do ranking das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, que produzem 7,2 milhões de toneladas de lixo eletrônico anualmente.  

Conforme apontado pela pesquisa RESÍDUOS ELETRÔNICOS NO BRASIL - 2021, a maioria dos participantes (87%) estava ciente da existência do lixo eletrônico. No entanto, uma parcela significativa (33%) associa erroneamente o lixo eletrônico ao meio digital, como spam, e-mails, fotos ou arquivos. Na faixa etária de 15 a 25 anos, 57% demonstraram falta de informação sobre o descarte apropriado de resíduos eletrônicos. Além disso, grande parte (75%) desconhece a possibilidade de reciclar todos os eletroeletrônicos se descartados corretamente, enquanto 51% não reconhecem lâmpadas comuns, incandescentes e fluorescentes como lixo eletrônico. Estimativas indicam que o Brasil conta apenas com cerca de 10 mil pontos de coleta para reciclagem de eletrônicos, resultando em uma taxa de reciclagem efetiva de apenas 3% do e-lixo produzido. Entretanto, muitas pessoas desconhecem a existência de locais apropriados para o descarte de lixo eletrônico.

Diversas alternativas estão disponíveis para que a população possa descartar o lixo eletrônico de forma responsável. Uma dessas soluções é o retorno dos produtos ao fabricante. Muitas marcas mantêm pontos de coleta onde os consumidores podem depositar seus aparelhos eletrônicos usados, com a garantia de que serão encaminhados para um sistema de logística reversa. Esta prática está prevista na Política Nacional dos Resíduos Sólidos (Lei Nº 12.305), que estabelece que é responsabilidade dos fabricantes destinar adequadamente os resíduos gerados por seus produtos. O Programa de Reciclagem Samsung disponibiliza centenas de pontos de coleta em lojas e assistências técnicas, e em alguns casos, a empresa realiza a coleta diretamente. O Sistema de Logística Reversa da Whirlpool, detentora de marcas como Brastemp, Consul, KitchenAid, opera um sistema de logística reversa que permite o descarte sem custo de produtos eletroeletrônicos sem uso de qualquer marca em qualquer lugar do Brasil. Grandes redes varejistas também oferecem postos de coleta em parceria com a Green Eletron em todo o Brasil. O lixo eletrônico, também pode ser descartado em pontos de coleta disponibilizados pela prefeitura de sua cidade. Em Curitiba, o descarte pode ser realizado nos Ecopontos ou nos mutirões realizados trimestralmente pela prefeitura. Além disso, diversas empresas especializadas como a  Reciclatech, Hamaya, Sete Ambiental, e Recicla eletrônicos, oferecem serviços de coleta e reciclagem.

MINERAÇÃO URBANA

A mineração urbana envolve a recuperação de materiais valiosos presentes nos resíduos sólidos urbanos, uma abordagem cada vez mais relevante na gestão de recursos. Muitas vezes, os resíduos eletrônicos são descartados como lixo comum, ignorando seu potencial de reciclagem e transformação em novas matérias-primas. Em contraste com a extração de recursos naturais do solo, a mineração urbana visa recuperar metais preciosos e outros materiais através da reciclagem, reintegrando-os à cadeia produtiva a partir de itens descartados pelos consumidores após o uso, reduzindo assim a necessidade de novas minerações. O descarte de itens como celulares, computadores e geladeiras geram a oportunidade de extração e reutilização no setor industrial de minérios, tais como: ouro, prata, cobre, platina, alumínio e aço. Plataformas como a  Urban Mine Platform, fornecem dados detalhados sobre produtos no mercado, estoques, composição e fluxos de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (EEE), veículos e baterias para os membros da União Europeia.

Um exemplo notável de mineração urbana foi o das medalhas das Olimpíadas de Tóquio, em 2021. Todos os metais utilizados na fabricação das medalhas, foram extraídos e reciclados de aparelhos eletrônicos descartados, como computadores, celulares e câmeras digitais, os quais foram desmontados para reutilizar o ouro, a prata e o bronze, presentes em seus componentes. Diversas empresas em todo o mundo estão se dedicando à mineração urbana e à recuperação de materiais valiosos dos resíduos sólidos urbanos, utilizando tecnologias avançadas e processos especializados para identificar, separar e recuperar os materiais de valor dos resíduos. Algumas empresas conhecidas nesse campo incluem a Umicore, com sede na Bélgica, que é líder global em reciclagem de metais preciosos e de terras raras provenientes de resíduos eletrônicos. A SIMS Recycling Solutions, com operações em vários países, também se destaca na reciclagem e recuperação de metais e eletrônicos. A Aurubis, localizada na Alemanha, é uma das maiores refinadoras de cobre do mundo, com foco em reciclagem e recuperação de metais a partir de resíduos urbanos. No Brasil, podemos citar algumas entidades que atuam na gestão de REEE: ABREE (Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos), disponibiliza informações e a gestão da logística reversa de produtos eletroeletrônicos e eletrodomésticos, a Green Eletron,  a logística reversa de eletroeletrônicos, a  Reciclus , a logística reversa de lâmpadas e a Ambipar que atua em todo o Brasil, junto aos mais diversos segmentos empresariais, oferecendo soluções integradas para toda a cadeia de negócio de cada empresa.

 Devido à vasta extensão territorial do Brasil, é crucial estabelecer uma infraestrutura logística eficiente para garantir a coleta abrangente e segura dos resíduos eletrônicos até os centros de reciclagem, bem como é essencial fomentar um esforço contínuo de conscientização da população sobre a importância da destinação adequada dos resíduos eletrônicos.

  

Acesse o Painel de Indicadores de Mudanças Climáticas de Curitiba: https://paineldemudancasclimaticas.org.br/

 

Fontes:

Green Eletron

Disponível em: https://greeneletron.org.br/

 

O que é mineração urbana?

Disponível em: https://www.holcim.com/who-we-are/our-stories/what-is-urban-mining

 

Urban Mine Platform

Disponível em: http://www.urbanmineplatform.eu/homepage

 

Diagnóstico da mineração urbana dos resíduos eletroeletrônicos no Brasil

Disponível em: http://mineralis.cetem.gov.br/bitstream/cetem/2632/1/Projeto_MINARE_2023.pdf

 

Produção mundial de lixo eletrônico é cinco vezes maior do que sua reciclagem, diz ONU

Disponível em: https://oeco.org.br/noticias/producao-mundial-de-lixo-eletronico-e-cinco-vezes-maior-do-que-sua-reciclagem-diz-onu/

 

The Global E-Waste

Disponível em: https://globalewaste.org/

 

The Global E-Waste Monitor 2024

Disponível em: https://api.globalewaste.org/publications/file/297/Global-E-waste-Monitor-2024.pdf

 

Tudo o que você precisa saber sobre o lixo eletrônico

Disponível em: https://greeneletron.org.br/blog/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-o-lixo-eletronico/

 

Resíduos Eletrônicos no Brasil – 2021

Disponível em: https://greeneletron.org.br/pesquisa

 

Você sabe o que é mineração urbana?

Disponível em: https://portaldamineracao.com.br/voce-sabe-o-que-e-mineracao-urbana/

 

O Que é a Mineração Urbana?

Disponível em: https://www.lorene.com.br/o-que-e-a-mineracao-urbana/#:~:text=A%20minera%C3%A7%C3%A3o%20urbana%20%C3%A9%20um,a%20preserva%C3%A7%C3%A3o%20do%20meio%20ambiente

 

Mineração Urbana – As Novas Fronteiras dos Garimpeiros

Disponível em: https://portalresiduossolidos.com/mineracao-urbana/

 

O Programa de Reciclagem Samsung

Disponível em: https://www.samsung.com/br/support/programa-reciclagem/#:~:text=O%20Programa%20de%20Reciclagem%20Samsung,quebrados%2C%20usados%20ou%20sem%20uso

 

#MudançasClimáticas #ClimateChange #LixoEletrônico #e-lixo #MineraçãoUrbana #Reciclagem #ResíduosEletrônicos #LogísticaReversa


Mais Notícias