Microexplosões

Eventos atmosféricos extremos em um clima em transformação

Autor
Observatório Sistema Fiep - 15/09/2025

Em um minuto:

  • Microexplosões, ou microbursts, são descargas violentas de ar que descem de nuvens de tempestade e atingem o solo em linha reta, espalhando ventos que podem ultrapassar 200 km/h.
  • Efeitos observados: entre 1985 e 2020, sua ocorrência quadruplicou em porções da Amazônia, ocasionando a derrubada de árvores centenárias. Já em áreas urbanas, as microexplosões estão associadas a danos estruturais significativos.
  • Riscos e tendências: o fenômeno representa ameaça crítica para operações aéreas, especialmente em pousos e decolagens. Evidências científicas associam o aumento de sua frequência e intensidade às mudanças climáticas, impulsionadas pela elevação da temperatura e da umidade atmosférica.

As microexplosões, conhecidas também pelo termo em inglês microbursts, são ventos extremos que têm se tornado mais frequentes e intensos em consequência das mudanças climáticas. Originam-se a partir de nuvens de tempestade do tipo cumulonimbus, que apresentam grande desenvolvimento vertical. Nessas formações, uma corrente de ar frio e denso se desprende da nuvem e despenca violentamente em direção ao solo, concentrada em uma área relativamente pequena. Ao atingir o chão, essa descarga de vento se espalha como um corredor, provocando rajadas que podem ultrapassar 200 km/h. Embora se assemelhe a um tornado pelo potencial de destruição, a microexplosão difere dele porque sua corrente de ar desce em linha reta, sem a espiral característica do tornado. Muitas vezes, o fenômeno ocorre em conjunto com chuvas fortes e provoca estrondos audíveis a quilômetros de distância.

Na Amazônia, por exemplo, os impactos desse tipo de evento têm sido significativos. Pesquisas apontam que, entre 1985 e 2020, os episódios associados às microexplosões quadruplicaram em algumas porções da floresta. A força dos ventos tem derrubado árvores centenárias e de grande porte, incluindo espécies raras e gigantes. A queda dessas árvores pode alterar o equilíbrio ecológico, criando clareiras que mudam a dinâmica da floresta e afetam os microclimas locais. Além disso, as árvores maduras funcionam como reservatórios de carbono. Ao serem derrubadas pelas microexplosões, parte desse carbono armazenado pode ser liberada para a atmosfera. Como muitas dessas árvores também fornecem alimento e abrigo, sua perda ainda pode comprometer cadeias ecológicas e impactar populações de animais que dependem delas.

Microexplosão na Amazônia. IMAGEM: Arquivo pessoal/David Urquiza/Ecoa Uol

Em áreas urbanas, as microexplosões também deixam rastros de destruição. Em Maringá, no Paraná, um episódio ocorrido em 2024 provocou destelhamentos, quedas de árvores e danos à infraestrutura da cidade. Nessas situações, o fenômeno ocorre quando a nuvem de tempestade não consegue mais sustentar o volume de água em seu interior e libera de forma abrupta a descarga de ar e a chuva. O resultado é um impacto localizado, mas de intensidade comparável a outros desastres climáticos, frequentemente exigindo reparos e mobilização de serviços de emergência.

Microexplosão em Maringá (PR). IMAGEM: Acácio Cordioli/Stormaringa/G1

Outro campo onde os riscos das microexplosões são elevados é a aviação. Correntes descendentes tão violentas como as associadas às microexplosões representam uma ameaça particularmente crítica durante pousos e decolagens. Pequenas rajadas descendentes, com apenas alguns quilômetros de extensão, podem causar mudanças súbitas na direção e velocidade do vento, desestabilizando aviões em segundos. O fenômeno é capaz de provocar perdas ou ganhos repentinos de altitude, criando turbulências que, em casos extremos, podem resultar em acidentes graves. O problema é agravado pela dificuldade de previsão das microexplosões: como são eventos localizados e de curta duração, nem sempre os radares meteorológicos conseguem identificá-los com antecedência suficiente.

Com a emergência climática, o fenômeno tem se intensificado. O aumento do calor e da umidade atmosférica, fatores ligados ao aquecimento global, favorece a formação de nuvens de tempestade e, consequentemente, a ocorrência de microexplosões. Embora possam acontecer em qualquer época do ano, esses eventos são mais comuns no verão, quando as temperaturas elevadas criam condições ideais para tempestades severas. Os dados e registros recentes confirmam que não se trata mais de eventos raros ou pontuais, mas de um fenômeno climático que, impulsionado pelas mudanças globais, está se tornando mais frequente e perigoso, com repercussões para a natureza, as cidades e a segurança das pessoas.

 

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Para citar este artigo:

OBSERVATÓRIO SISTEMA FIEP / PAINEL DE INDICADORES DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS DE CURITIBA (PIMCC). Microexplosões - Eventos atmosféricos extremos em um clima em transformação. Disponível em: https://paineldemudancasclimaticas.org.br/noticia/microexplosoes-microbursts. Acesso em: dd/mm/aaaa.

 

#MudançasClimáticas #ClimateChange #Microexplosões #Microburts #Downbursts

 

Fontes consultadas

AMÂNCIO, A./ECOA UOL. Ventos extremos derrubam árvores gigantes e raras na Amazônia. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2024/11/22/ventos-extremos-derrubam-arvores-gigantes-e-raras-na-amazonia.htm. Acesso em: 10 set. 2025.

BUKALOWSKI, G./G1. O que é microexplosão, fenômeno que causou destelhamentos e quedas de árvores em Maringá e região. Disponível em: https://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2023/10/08/o-que-e-microexplosao-fenomeno-que-causou-destelhamentos-quedas-de-arvores-em-maringa-e-regiao.ghtml. Acesso em: 10 set. 2025.

ECOA UOL. O que é microexplosão, fenômeno que está derrubando árvores na Amazônia. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2024/11/25/o-que-e-microbursts.htm. Acesso em: 10 set. 2025.

SPEER, M.; LESLIE, L. M./THE CONVERSATION. Freak wind gusts made worse by climate change threaten airline passenger safety. Disponível em: https://theconversation.com/freak-wind-gusts-made-worse-by-climate-change-threaten-airline-passenger-safety-258823. Acesso em: 10 set. 2025.


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