Subsidência do Solo  

Crise urbana invisível

Autor
Observatório Sistema Fiep - 23/09/2024

Os recursos hídricos globais enfrentam pressões significativas em decorrência das mudanças climáticas e do crescimento populacional. As águas subterrâneas, que correspondem a 99% de toda a água doce líquida disponível no planeta, são responsáveis por cerca de metade do volume de água extraído para atender às necessidades da população mundial. Entretanto, uma pesquisa recente, publicada na revista Nature Communications, revelou que a exploração excessiva desse recurso está provocando o afundamento do solo e o colapso de aquíferos. 

Águas subterrâneas 

As águas subterrâneas, armazenadas em fissuras e buracos de formações rochosas permeáveis, desempenham um papel essencial no fornecimento de água potável, para beber, irrigação e outros usos, além de sustentar rios, lagos e zonas úmidas, especialmente durante períodos de seca. Embora sejam renováveis, a recuperação de aquíferos pode levar décadas ou até séculos após o esgotamento. Para que os níveis de água subterrânea retornem aos padrões anteriores após uma seca, é necessário um período considerável para que a precipitação se infiltre no solo e recarregue os aquíferos esvaziados. 

Diversos fatores influenciam os níveis de águas subterrâneas, tais como a geologia, o clima e o uso do solo. A redução progressiva dos níveis de água em uma determinada área frequentemente indica que a taxa de extração supera a capacidade de reabastecimento natural do aquífero. O rebaixamento do lençol freático, associado ao bombeamento excessivo, pode levar à subsidência do solo, isto é, ao afundamento gradual e irregular da superfície terrestre, fenômeno que pode ser exacerbado por condições climáticas e geológicas. Nas regiões costeiras, a sobre-exploração dos aquíferos pode favorecer a intrusão de água salgada no subsolo, contaminando os sistemas de águas subterrâneas e tornando-as inadequadas para o consumo ou agricultura, além de elevar o risco de inundações nessas áreas. 

Subsidência 

O fenômeno da subsidência refere-se ao movimento gradual e descendente do solo, resultante de modificações nas camadas subterrâneas, predominantemente com uma trajetória vertical. Em contraste, o colapso de terreno, embora tenha uma definição semelhante, caracteriza-se por ser um movimento súbito e brusco do terreno (Infanti Júnior; Fornasari Filho, 1998). Nas regiões com tipo de relevo que se caracteriza pela dissolução/corrosão das rochas, formando cavernas, grutas, rios subterrâneos, paredões rochosos, entre outros, os colapsos de terrenos são as principais causas de graves acidentes, muitas vezes resultando em mortes, inclusive pelo desaparecimento repentino de pessoas tragadas pelo solo. A subsidência, embora geralmente mais lenta, também pode ocasionar danos econômicos significativos, além de mortes devido ao colapso parcial ou total de edificações (Nakazawa; Prandini; Diniz, 1995). 

Os processos de subsidência podem ser classificados em dois tipos, com base em suas causas: processos naturais e processos acelerados por ações antrópicas. Entre os processos naturais, destacam-se aqueles relacionados a fenômenos tectônicos ou à dissolução de rochas (carstificação), que ocorre quando águas subterrâneas e superficiais dissolvem rochas, formando cavernas e dolinas. Por outro lado, os processos de subsidência acelerados pela ação humana podem ser atribuídos à extração excessiva de água subterrânea, que reduz o nível do lençol freático, à exploração de petróleo e gás, à atividade mineradora e à urbanização desordenada, que aumenta a demanda por recursos hídricos e a pressão sobre o solo devido ao peso de construções e obras, além de galerias de mineração subterrânea. 

Fonte: Meio Bit / Engenharia 

Cidade do México. Fonte: Meio Bit / Engenharia 

Diversas cidades ao redor do mundo estão afundando a taxas alarmantes devido à subsidência, frequentemente agravada por atividades humanas, como o bombeamento de águas subterrâneas e o peso crescente das próprias áreas urbanas. Embora o caso mais notório seja o de Jacarta, na Indonésia, onde o afundamento acelerado levou à decisão de construir uma nova capital, outras grandes cidades ao redor do mundo enfrentam problemas semelhantes. A extração de água subterrânea está diretamente associada à subsidência de metrópoles como Houston (EUA), Ho Chi Minh (Vietnã), Istambul (Turquia), Mumbai (Índia), Auckland (Nova Zelândia) e Cidade do México (México). Grandes centros urbanos costeiros, como Boston, Nova Orleans e São Francisco, também estão vulneráveis a inundações no futuro próximo, devido à combinação da subsidência com a elevação do nível do mar. Na China, quase metade das principais cidades está afundando devido à extração de água subterrânea e ao aumento da carga sobre o solo, decorrente da rápida expansão imobiliária. No Chile, o salar do Atacama enfrenta afundamentos provocados pela extração de salmoura rica em lítio, essencial para baterias de veículos elétricos, uma vez que o ritmo de bombeamento supera a recarga dos aquíferos, resultando em subsidência. Já em Washington (EUA), o solo está cedendo em função do derretimento de uma camada subterrânea de gelo remanescente da última era glacial, embora, nesse caso, o ritmo seja mais lento e de menor preocupação para as autoridades. 

A previsão de futuros eventos de subsidência exige a aplicação de modelos que integrem múltiplos fatores, como as atividades humanas e as mudanças climáticas, além de suas possíveis transformações ao longo do tempo. O impacto desse fenômeno é particularmente grave nas áreas costeiras, onde a combinação de subsidência com a elevação do nível do mar, impulsionada pelas mudanças climáticas, representa uma grave ameaça, expondo populações urbanas a graves inundações e com potencial de causar significativas perdas humanas e materiais. 

 

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Fontes 

 

Água subterrânea: retrato de um planeta sedento 

Disponível em: https://outraspalavras.net/outrasmidias/agua-subterranea-retrato-de-um-planeta-sedento/ 

  

Águas subterrâneas globais são reduzidas a uma taxa de 17 km3 por ano 

Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/634434-aguas-subterraneas-globais-sao-reduzidas-a-uma-taxa-de-17-km3-por-ano 

  

A megacidade que está afundando a níveis alarmantes e pode desaparecer em 30 anos 

Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/09/15/a-megacidade-que-esta-afundando-a-niveis-alarmantes-e-pode-desaparecer-em-30-anos.ghtml 

  

As 10 cidades costeiras que estão afundando mais rápido pelo mundo 

Disponível em: https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/127934-as-10-cidades-costeiras-que-estao-afundando-mais-rapido-pelo-mundo.htm 

  

As cidades chinesas que estão afundando pelo próprio peso 

Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/clw0ql23dewo 

  

As maiores cidades da China estão em risco de afundamento 

Disponível em: https://ihu.unisinos.br/categorias/638754-as-maiores-cidades-da-china-estao-em-risco-de-afundamento 

  

CABRAL, Jaime Joaquim da Silva Pereira; SANTOS, Sylvana Melo dos; PONTES FILHO, Ivaldo Dário da Silva. Bombeamento Intensivo de Água Subterrânea e Riscos de Subsidência do Solo. RBRH – Revista Brasileira de Recursos Hídricos. v.11, n. 3; jul/set 2006, p. 147-157. Disponível em: https://abrh.s3.sa-east-1.amazonaws.com/Sumarios/23/b6a853f3fd33a2638ed2c7aafb118091_8ff3a6332c8c0acdfff038e003e46648.pdf 

Cidades da costa dos Estados Unidos estão afundando 

Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2024/05/06/cidades-da-costa-dos-estados-unidos-estao-afundando/ 

Entenda o colapso da mina da Braskem que está afundando Maceió 

Disponível em: https://www.ufrgs.br/humanista/2023/12/19/entenda-o-caso-do-colapso-da-mina-da-braskem-que-esta-fazendo-maceio-afundar/ 

 

GEODINÂMICA EXTERNA / PROCESSOS DE DINÂMICA SUPERFICIAL 

Disponível em: http://www1.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/interacao/inter12.html 

HASAN, M.F.; SMITH, R.; VAJEDIAN, S. et al. Global land subsidence mapping reveals widespread loss of aquifer storage capacity. Nature Communications, n. 14, out. 2023. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41467-023-41933-z

INFANTI JUNIOR, N.; FORNASARI FILHO, N. Processos de Dinâmica Superficial. In: OLIVEIRA, A.M.S.; BRITO, S.N.A. (Eds.). Geologia de Engenharia. 1ª ed. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), 1998. cap. 9, p.131-152. 

Mineração de lítio afunda lentamente salar do Atacama, diz estudo 

Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2024-08/mineracao-de-litio-afunda-lentamente-salar-do-atacama-diz-estudo 

  

NAKAZAWA, V.A.; PRANDINI, F.L.; DINIZ, N.C. Subsidências colapsos de solo em áreas urbanas. In: BITAR, O.Y. (Coord.). Curso de geologia aplicada ao meio ambiente. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), 1995. cap.3, p.101-133. 

  

Potencial das águas subterrâneas exige gerenciamento sustentável 

Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/617143-potencial-das-aguas-subterraneas-exige-gerenciamento-sustentavel 

  

Reservas de água subterrânea podem não se recuperar da superexploração e secas 

Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/613359-reservas-de-agua-subterranea-podem-nao-se-recuperar-da-superexploracao-e-secas 

  

SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL – CPRM 

Disponível em: https://defesacivil.es.gov.br/Media/DefesaCivil/Material%20Did%C3%A1tico/CBPRG%20-%202019/Aula%206_Subsidencia%20e%20colapso_CPRM_Vitoria.pdf 

  

Subsidência do solo: quais cidades litorâneas estão afundando mais rápido?  

Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/subsidencia-do-solo-quais-cidades-litoraneas-estao-afundando-mais-rapido 

 

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