Mudanças Climáticas e Indústria
Desafios e Estratégias para o Futuro
Em um minuto:
- As mudanças climáticas já impactam a indústria brasileira, trazendo riscos como danos à infraestrutura em função dos eventos extremos, interrupções nas cadeias de suprimentos e aumento dos custos operacionais.
- O setor industrial enfrenta pressões crescentes associadas a normas ambientais mais rigorosas e precisa se adaptar às novas exigências de mercado, dos investidores e dos consumidores, cada vez mais atentos às práticas sustentáveis.
- Planejar em longo prazo, fortalecer a gestão de riscos climáticos e investir em inovação são algumas das estratégias para aumentar a resiliência e a competitividade industrial diante da emergência climática.
- A emergência climática não traz somente riscos para a indústria, mas também abre oportunidades para a modernização de processos, o acesso a novos mercados e a construção de estratégias mais sustentáveis e alinhadas às demandas da sociedade.
A indústria é um dos pilares da economia brasileira, sendo responsável por 24,7% do PIB nacional, 33,7% das exportações e 21% dos empregos formais do país, o equivalente a mais de 11 milhões de postos de trabalho, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A cada real produzido pelo setor industrial brasileiro, outros R$ 2,44 são movimentados na economia, valor superior ao impacto gerado, por exemplo, pela agropecuária (R$ 1,71) e pelo comércio e serviços (R$ 1,80). Com forte presença em áreas como construção, alimentos, energia, metalurgia, produtos químicos e equipamentos, o setor industrial também impulsiona a inovação nacional e contribui para o posicionamento do Brasil entre as 50 nações mais inovadoras do mundo.
Apesar da relevância da indústria brasileira, há ameaças crescentes que exigem atenção devido ao potencial de impacto na produtividade e na competitividade do setor. Entre elas, destacamos as mudanças climáticas, que podem afetar a disponibilidade de recursos, como água e energia, alterar padrões de demanda, interromper as cadeias de suprimentos, aumentar custos e gerar atrasos na produção.
As alterações nos padrões climáticos e suas consequências, como a intensificação dos eventos extremos e os efeitos sobre a saúde ambiental e humana, estão pressionando o setor industrial a se adaptar rapidamente. Fenômenos como enchentes e secas, agravados pelo aquecimento global, ameaçam desde o abastecimento de matérias-primas até a logística de distribuição, elevando os riscos operacionais e exigindo maior resiliência da infraestrutura industrial.
No estudo “Macrotendências para o Futuro da Indústria 2040”, realizado pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI – CNI) para 10 segmentos, as mudanças climáticas são apontadas como um dos principais fenômenos de alcance global e com potencial de impactar profundamente a competitividade industrial. Entre as implicações das mudanças climáticas para a indústria, levantadas no estudo a partir da realização de pesquisa documental e bibliográfica e da consulta a especialistas e representantes do setor, estão:
• Emissões de gases de efeito estufa
A indústria responde por aproximadamente 24% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). Essa realidade pressiona o setor a adotar estratégias de descarbonização, como o uso de matérias-primas alternativas e a implementação de processos produtivos mais limpos.
A redução das emissões passa também pelo desenvolvimento e utilização de tecnologias de captura, armazenamento e uso de carbono (CCUS, da sigla em inglês), expansão das energias renováveis e ações de compensação, como o plantio de árvores e o uso de créditos de carbono.
• Normas e regulamentações ambientais
A intensificação das mudanças climáticas tem levado à adoção de normas ambientais cada vez mais rigorosas, tanto em nível nacional quanto internacional. A indústria precisa se adaptar a novos padrões regulatórios que afetam todas as etapas da produção, da extração de materiais ao descarte dos produtos.
• Consumo de energia
Em 2022, o setor industrial foi responsável por 37% da demanda global de energia, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA). O elevado consumo de alguns segmentos, como o de metalurgia e de tecnologia da informação e comunicação, demandará investimentos para o aumento da eficiência energética das operações.
• Pressões socioambientais
Questões sociais e ambientais estão cada vez mais integradas à percepção de valor das empresas. Investidores, consumidores e agentes reguladores esperam posturas empresariais responsáveis. Essa mudança de paradigma exige transparência, compromissos públicos e práticas que promovam impactos positivos para a sociedade e o meio ambiente.
• Comportamento de consumo
Oscilações climáticas podem influenciar hábitos de consumo, desde a demanda por alimentos e roupas até o uso de eletrônicos e eletrodomésticos. A indústria precisa antecipar essas mudanças, adaptando seu portfólio de produtos às novas condições climáticas e preferências dos consumidores.
• Planejamento de longo prazo
Os impactos dos eventos extremos, como enchentes e secas, exemplificam a importância de incorporar variáveis climáticas ao planejamento estratégico. Avaliar riscos, redirecionar investimentos e alinhar-se a cenários futuros serão, cada vez mais, etapas fundamentais para garantir a continuidade e o crescimento do setor industrial.
• Políticas públicas e cooperação institucional
Enfrentar os efeitos das mudanças climáticas exige a articulação entre o setor produtivo, o poder público e as instituições de pesquisa. A formulação de políticas públicas integradas pode orientar investimentos, reduzir vulnerabilidades e impulsionar a inovação em soluções para a mitigação e a adaptação à crise climática.
Embora as implicações da emergência climática sinalizem a necessidade de adaptação, o cenário não é apenas de risco: também é uma janela de oportunidades para a inovação, a competitividade e a transição para modelos produtivos mais sustentáveis.
Diante disso, apresentamos, a seguir, algumas estratégias para que a indústria possa se tornar mais resiliente mesmo diante da emergência climática. As recomendações são resultantes do estudo “Macrotendências para o Futuro da Indústria 2040” (ONI – CNI) e foram elaboradas a partir da consulta a especialistas e representantes do setor. Cabe destacar que cada segmento industrial tem suas especificidades e é impactado de maneiras distintas pelas mudanças do clima. Contudo, as ações elencadas, tanto em nível setorial como organizacional, são transversais e podem ajudar no planejamento da indústria.
Recomendações estratégicas para a indústria diante das mudanças climáticas
Em nível setorial
• Elaborar planos de contingência setoriais, considerando os riscos associados às mudanças climáticas, para garantir a continuidade das operações frente a eventos extremos.
• Implementar sistemas de monitoramento das cadeias de valor, incentivando as práticas sustentáveis e a redução das emissões ao longo de toda a cadeia produtiva.
• Criar programas e estabelecer planos de incentivo à neutralização de carbono, fomentando ações para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
• Desenvolver agendas ESG específicas para cada segmento, integrando aspectos ambientais, sociais e de governança nas estratégias industriais.
• Planejar ações de mitigação para desastres climáticos, considerando impactos potenciais sobre a produção, o armazenamento e a distribuição.
• Incentivar práticas e processos sustentáveis nas cadeias produtivas, reduzindo impactos ambientais e melhorando a competitividade industrial.
• Investir na rastreabilidade de matérias-primas, assegurando o cumprimento de padrões internacionais de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental.
• Estabelecer marcos regulatórios e políticas de incentivo, como subsídios para energias renováveis e tecnologias de baixo carbono, estimulando a transição ecológica.
• Adotar sistemas avançados de monitoramento e alerta, capazes de prever e mitigar riscos decorrentes de eventos climáticos extremos, protegendo tanto as operações quanto os trabalhadores.
• Direcionar investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação, visando à criação e uso de soluções que reduzam emissões e aumentem a eficiência dos processos industriais.
• Promover a educação ambiental e a conscientização sobre as mudanças climáticas, tanto internamente, com os colaboradores, quanto externamente, junto aos consumidores e à sociedade.
• Estabelecer indicadores para medir o avanço da descarbonização, permitindo avaliar e reportar os resultados das iniciativas adotadas nos diversos segmentos industriais.
• Aprimorar políticas públicas setoriais, incentivando o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e a inovação voltada para a competitividade com baixo impacto ambiental.
• Criar mecanismos de incentivo à gestão de resíduos, promovendo a destinação adequada e a economia circular no setor industrial.
Em nível organizacional
Considerando as particularidades de cada empresa, não há soluções únicas para enfrentar a emergência climática. Contudo, apresentamos, a seguir, algumas estratégias aplicáveis à maioria das organizações:
• Implementar estratégias de descarbonização e mitigação de emissões em toda a cadeia produtiva, incluindo fornecedores, processos internos e logística de distribuição.
• Integrar áreas de Pesquisa, Desenvolvimento, Inovação, Jurídico e Marketing, assegurando que produtos e serviços estejam alinhados às práticas ESG (ambiental, social e governança) e às demandas de sustentabilidade.
• Incorporar a análise de riscos climáticos nos planejamentos estratégicos, contemplando novos investimentos, expansão de negócios e desenvolvimento de produtos.
• Elaborar matriz de materialidade, inventário de emissões e planos de descarbonização, tornando a sustentabilidade um eixo central da estratégia empresarial.
• Adotar práticas ESG (ambiental, social e governança) como vetor de geração de valor, mitigação de riscos e fortalecimento da reputação no mercado.
• Investir na transição energética, priorizando fontes renováveis e diversificando a matriz energética para reduzir emissões de gases de efeito estufa.
• Aprimorar a gestão de recursos naturais, como água, energia e matérias-primas, assegurando sua disponibilidade e uso eficiente nas operações.
• Adotar tecnologias limpas e processos de baixo carbono, alinhados às tendências de mercado e às exigências dos consumidores.
• Adaptar a infraestrutura industrial, criando planos de resposta rápida para enfrentar eventos climáticos extremos, como enchentes, secas, ondas de calor e tempestades.
•Capacitar os colaboradores para a gestão de riscos climáticos, garantindo a saúde, a segurança e a continuidade operacional diante de eventos extremos.
•Substituir matérias-primas e insumos por alternativas de menor impacto ambiental.
•Investir em projetos de compensação de carbono, como reflorestamento, conservação da biodiversidade e iniciativas de eficiência energética.
•Priorizar os fornecedores comprometidos com práticas sustentáveis.
Neste Dia Nacional da Indústria, refletir sobre os impactos da emergência climática é essencial para construir um setor mais forte e preparado para o futuro. Diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas, como impactos nas cadeias de suprimento, aumento dos custos operacionais, riscos associados a eventos extremos e pressão pela redução das emissões, a indústria se vê diante de uma transformação inevitável. Além de estarem mais preparadas para enfrentar os riscos climáticos, as empresas que se anteciparem, incorporarem critérios de sustentabilidade e adotarem estratégias de mitigação e adaptação também poderão conquistar vantagens competitivas, acessar novos mercados e desenvolver processos produtivos mais resilientes e alinhados às demandas da sociedade.
Para mais conteúdo relacionado às mudanças climáticas, acesse o Painel de Indicadores de Mudanças Climáticas de Curitiba neste link.
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Para citar este artigo:
OBSERVATÓRIO SISTEMA FIEP / PAINEL DE INDICADORES DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS DE CURITIBA (PIMCC). Mudanças Climáticas e Indústria: Desafios e Estratégias para o Futuro. Disponível em: https://paineldemudancasclimaticas.org.br/noticia/mudancas-climaticas-industria. Acesso em: dd/mm/aaaa.
#MudançasClimáticas #ClimateChange #IndústriaSustentável #MudançasClimáticas #TransiçãoEnergética #Inovação #ESG #IndústriaDoFuturo
Fontes consultadas
INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE (IPCC). Sections. In: _____. Climate Change 2023: Synthesis Report. Contribution of Working Groups I, II and III to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [Core Writing Team, H. Lee and J. Romero (eds.)]. Geneva: IPCC, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.59327/IPCC/AR6-9789291691647. Acesso em: 22 mai. 2025.
INTERNATIONAL ENERGY AGENCY (IEA). Industry. Disponível em: https://www.iea.org/energy-system/industry. Acesso em: 22 mai. 2025.
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL/DEPARTAMENTO NACIONAL. Macrotendências para o futuro da indústria 2040 : alimentos e bebidas. Brasília: Senai/DN, 2024. Disponível em: https://www.portaldaindustria.com.br/canais/observatorio-nacional-da-industria/produtos/macrotendencias-alimentos-e-bebidas/. Acesso em: 19 mai. 2025.
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SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL/DEPARTAMENTO NACIONAL. Macrotendências para o futuro da indústria 2040 : transporte, armazenagem e correio. Brasília: Senai/DN, 2024. Disponível em: https://www.portaldaindustria.com.br/canais/observatorio-nacional-da-industria/produtos/macrotendencias-transp-armaz-e-correio/. Acesso em: 19 mai. 2025.
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL/DEPARTAMENTO NACIONAL. Macrotendências para o futuro da indústria 2040 : veículos, embarcações e aeronaves. Brasília: Senai/DN, 2024. Disponível em: https://www.portaldaindustria.com.br/canais/observatorio-nacional-da-industria/produtos/macrotendencias-veiculo-embar-e-aeronaves/. Acesso em: 19 mai. 2025.